Lembro-me das tuas angústias nocturnas
Lembro-me que eram minhas também
Lembro-me dos telefonemas às três da manhã
Lembro-me daquela porta fechada naquela madrugada gelada
Lembro-me de não teres acreditado em mim
Lembro-me sim : inflexível, inamovível, surda, gelada como a rua
Lembro-me de oito quilómetros a pé, de volta a casa
Lembro-me de chorar todo o caminho
Lembro-me de ir olhando para o telemóvel – incrédulo por não tocar
Lembro-me da raiva por te ter implorado, suplicado
Lembro-me de me sentir uma merda, um miserável – gelado
Lembro-me de ter sido menos que um pequeno homem
Lembro-me de me pedires desculpa no dia seguinte
Lembro-me de pensar para comigo:
Não peças desculpa, pede-me perdão!
Lembro-me de amolecer com as tuas lágrimas
Lembro-me dessa paixão
Queres saber de mais coisas que me lembro?!
Lembro-me da revolta e raiva pelo teu ex marido
Lembro-me das coisas que te fez – de toda a ignomínia
Lembro-me das feridas na tua alma em carne viva
Lembro-me de te cobrir de beijos – pedindo que sarasses
Lembro-me de ser homem onde ele não o foi
Lembro-me de te pôr nas mãos, algo meu que nunca lhe viste a ele
Lembro-me de ter sido eu, castigado pelos crimes dele
Lembro-me de ter sido eu, a presa que nunca tiveste coragem de fazer dele
Lembro-me de quem ficou, quando tantos te viraram as costas
Lembro-me de acordar com os teus sonhos chorados
Lembro-me de chamar anjos que te ajudassem nesse sítio negro
Lembro-me de combater o sono para te acariciar o cabelo
Lembro-me da dor lancinante quando me pediste um filho
Lembro-me de muita coisa que magistralmente sabias fingir
Lembro-me do horror de ter percebido isso
Lembro-me que não vale a pena relembrar-te nada disto
Lembro-me de ter sido o homem mais rebaixado e sem respeito por si mesmo
Lembro-me de ter vergonha asquerosa de mim próprio
Lembro-me de não me reconhecer no espelho
Lembro-me com felicidade do dia em que disse “basta”
Lembro-me de virar as costas a dois anos de vida perdida
Lembro-me ainda assim, de chorar o amor que desperdiçara a dar
Mas lembro-me – contudo - do alívio que tomou conta de mim
Que me lembrou estar aquele amor há muito moribundo, em sentido único
Que me lembrou que se podem matar fantasmas
Lembro-me principalmente, que tudo isto acabou
Lembro-me que te sobrevivi
Se eu nunca fingi amor para conseguir sexo… perguntas tu?
Gostava que pudesses ouvir a minha gargalhada
Gostava que ouvisses o seu som de desprezo
Acredita em mim : tu estás morta!
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