Segunda-feira, 24 de Março de 2008

após a páscoa... estou de volta



páscoa 1

 

mais uma páscoa, mais uma reunião de família.

a Infiel não comprou o vestido a tempo… paciência… fica para a próxima.

desta vez, depois de escalpelizados os recentes acontecimentos com a minha mãe, deu-lhes para a má-língua política e socratista, ou seja… felizmente que os caixotes revestidos a azulejo assinados pelo nosso primeiro desviaram as atenções do meu celibato.

(fico a “dever-lhe” esta…)

a priminha de 27 aninhos, quase 28, está… um tesão.

ainda bem que pouco me liga, senão… credo… ainda lhe fazia a folha.

adiante…

foi uma reunião boa… houveram algumas vidas que melhoraram um pouco no entretanto, de dezembro para cá, o que me deixou bastante feliz.

a velha matriarca é que continua irascível e intragável… aquilo é incurável.

 

 

páscoa 2

 

parto-me a rir com os anúncios da tmn… da trata de triplicar o saldo, dos coelhinhos, etc.

aquele rei mago é impagável !

notei que, para além dos catraios, só eu e mais cinco é que achámos um piadão àquela tralha toda.

está portanto definida a “facção” dentro do “clã”… que o tipo de humor também é uma forma de se perceberem cumplicidades.

 

e lá está… “por onde saem os ovos ?!”, pois !...

okay… sou um tonto, pronto.

 

 

páscoa 3

 

ainda não percebi grande coisa daquela polémica com a aluna, a professora e o telemóvel… ou, calhando, pouco terá para “perceber”.

(era outro dos assuntos em “debate”…)

 

o meu mais velho diz-me : - oh Tito, na minha turma há miúdas sempre  ao telemóvel durante a aula…a mandar smésses…

- e achas isso correcto ? – pergunto-lhe.

- eu não… mas elas são “agarradas”…

- e as professoras ? que fazem ?...

- às vezes tiram-lhes os telemóveis e só lhos dão no fim das aulas ou no fim do dia.

- e tu ?... nunca mandas uns… smésses ?

- achas ?!?!?... nas aulas ponho em silêncio ou desligo quando tenho pouca carga.

- mas nunca houve nenhuma cena assim na tua escola ?

- nã… na minha turma não… mas falam lá na escola que vai sair uma lei que proíbe levarmos telemóveis, mp3, pens e outros equipamentos electrónicos.

- mas isso já é proibido, não é ?...

- sim, nas aulas… mas agora dizem que é na escola toda.

não lhe comento mais nada.


bom… vou ter de perguntar ao DT, o que se passa exactamente.

podem dizer o que quiserem acerca de “pais super-protectores” e afins que, a mim, isso não me interessa para nada !

há milhares e milhares de miúdos para quem o telemóvel é, em grande parte, uma forma de contacto com a família, que para além da vertente lúdica faz parte de uma segurança que a tecnologia tornou possível.

já chateia esta alarvidade de quando não se consegue resolver o problema de base, vai de proibir… esquecendo que se continuam a castigar milhares de justos pelo pecador.

se assim for… vai haver merda !

mas "sacudi" a coisa da mente... estávamos em família...

 

 

páscoa 4

 

vou a entrar numa pastelaria de Santarém com os meus sobrinhos e um amigo do do meio, quando… dou de caras com uma ex-colega minha de um antigo emprego.

surpresa… há quantos anos… o mundo é pequeno… etc e tal…

julgou que eu ainda era casado e que os quatro eram meus filhos.

expliquei-lhe que não e… ficou visivelmente radiante !

(as mulheres, muita vez, não são assim tão indecifráveis quanto se diz…)

- hummm, pois… também estou divorciada… divorciada e boa rapariga… (risos)

pois pois…”rapariga”, obviamente… “boa”, absolutamente !!!

(eh pá, putos… tomem lá 40 euros e bazem…) foi só um pensamento...


a conversa foi curta… eu estava de entrada com o infantário, ela de saída com um grupo geriátrico… mas, trocámos números de telemóvel e promessas de um encontro em Lisboa.

foi bom saber que ela é mais uma das que acham que os homens são como o vinho do Porto… é sempre uma informação relevante !

afinal sempre existem “ovos da Páscoa” !

( mnhammm… que coelhinha tão apetitosa que ela está !!!)

 

 

páscoa 5

 

- Ah… mas então o que a sua mãezinha teve foi uma broncopenomia’ !

 

ainda estive para dizer que há uma coisa chamada broncopneumonia (ou pneumonia lobular se preferirem), mas… tenho esta mania lixada de não dar à dica com pessoas que ostensivamente se acham mais cultas que as demais.

e não… não foi só uma “simples” broncopneumonia.

 

 

páscoa 6

 

e acerca da minha dedicação/preocupação pela minha mãe nestes dias… dizia a “mulher-moderna-espertalhona-sofisticada” :

- ai os homens, os homens… tenham a idade que tiverem estão sempre dependentes da mãezinhas…

(…?...)

eu ia perguntar-lhe se ela já tinha experimentado a ser sodomizada… pois é um autêntico bálsamo para aquele estado opinativo idiota, mas… a minha ovelhinha negra pôs-me a mão no braço, o que tem sempre um efeito calmante em mim.


estas coisinhas, muito engraçadinhas, muito “femininas”, são porreirinhas em reuniões de amiguinhas no salão de chá ou até no bloguezinho…

mas frente a um maduro, mais vivido que ela (de certeza), que teve a mãe em risco de vida num hospital dias antes… é algo completamente desaconselhável !

não sei se se pretende que seja sinal de uma qualquer “coragem”… mas de estupidez, é-o de certeza !

 

 

páscoa 7

 

no "cantinho dos petiscos", estava abrigado…

a luz difusa do sol, que se começava pôr por detrás das nuvens, vinha até mim por entre as árvores de fruto… o ar estava parado e tépido.

estava sozinho, recostado na cadeira junto à mesa de ripas de madeira, meio preguiçoso, meio apreciando aquele fim de tarde vagamente primaveril, bebendo o meu conhaque…

um pardal pousou nas costas da cadeira em frente.

entreolhamo-nos…

ele muito irrequieto, eu muito quieto…

olá”, disse-lhe.

meneou a cabecita, saltou para cima da mesa.

entre nós… três minúsculas migalhas de folar… percebi-lhe o irresistível da coisa.

dois ou três pulinhos para a frente, sempre comigo sob mira… bicou uma migalha… dois ou três pulinhos para trás… comeu-a.

repetido o processo mais duas vezes e tornou a recuar para as costas da cadeira.

parecia estar a mirar-me com atenção.

sorri.

- está bom o folar… não está ?

tornou a menear a cabecita daquela forma que torna os pardais tão “reguilas” para mim.

depois voou para uma nespereira mesmo defronte.

também gosto… de umas nêsperas sumarentas depois de umas fatias de folar.

 

 

páscoa 8

 

não sei aonde perdi a minha religiosidade… nem exactamente porquê…

sei que teve algo a haver com a morte do meu pai mas, muito sinceramente, não tenho consciência de “o quê” exactamente, nem recordo nenhum episódio específico para o “corte de relações”.

sei que fui umas 5 ou 6 vezes à missa, mas… disse à minha mãe que não mais queria ir e ela nunca me obrigou a tal.

isto para ???...

para dizer que, mais uma vez, a data é mero pretexto para estar com a família, deliciar-me com o borrego da minha tia e para mamar amêndoas… nada mais.

(e deverei acrescentar: para reencontrar ex-colegas de antigos empregos, se possível ?)

 

ainda assim…

íamos na rua (eu, os meus irmãos e cunhadas) e surge-nos uma daquelas velhotas que nos “conhecem desde miúdos” mas de quem não nos lembramos em absoluto e pergunta-nos se o compasso ia lá a casa (a casa da nossa tia portanto)…

os meus irmãos ficaram tipo, “o quem ?!?”… e antes que respondessem que não haviam arquitectos lá em casa ou coisa do género, lá respondi à velhota que “achava que não, que a minha tia não havia preparado nada”.

a velhota, depois de uma expressão que aparentava tristeza, lá mandou beijinhos e aquelas coisas todas… e foi à vida dela.

depois… eu, que nada ligo à igreja, lá tive que lhes explicar o que é o compasso… tradição de que não me lembro sequer que fosse seguida por aqueles lados.

limpar bem a casa, pintá-la ou caiá-la se possível, esperar pela vinda do padre para a benzer… beija-se a cruz e dá-se comida e bebida, claro.

(há muito tempo que não ouvia falar nisto…)

 

 

páscoa 9

 

e já chega de conversas em família, de cusquices de aldeia, de filmes bíblicos na tv e de comes-e-bebes a toda hora.

amanhã, domingo de páscoa… desculpem lá qualquer coisinha mas… depois de uma coisa que quero fazer de manhã com a minha mãe, volto para Lisboa, vou almoçar com o TT e depois… há-de ser “má vida” e da “muito pouco católica” até às tantas.

há que fazer render o tempo para tudo…






sinto-me: em paz...
música: Il Trovatore - (Giuseppe Verdi) trechos

Sábado, 1 de Março de 2008

auto estima vs solidão




simplesmente... aquilo que penso... tenha o valor que tiver



solidão é um cesto com muitos e diferentes vimes.

donde… é bastante falho, senão tendencioso, atribuírem-se “culpas” exclusivamente a A, B ou C… ou, como muito costumeiramente, à “sociedade”.

 

a velhice, a doença prolongada ou a “deficiência”, interligadas ou não, são circunstâncias que levam as pessoas a solidões bastante nefastas… daquelas em que, muita vez, as próprias pessoas pouco ou nada podem fazer… que são “lançadas” nelas e que, apenas por sua vontade, muito dificilmente conseguirão contrariar.


em todas as outras, a meu ver e muito provavelmente, o indivíduo tem uma palavra a dizer.

e é sobre este “em todas as outras” que este artigo se vai debruçar.

 


poucos anos atrás, creio que no início do governo anterior, este pretendeu lançar uma campanha “contra a solidão”… em que, entre outras coisas, mais ou menos legítimas ou pertinentes, se sugeria algo subtilmente que seria o indivíduo o principal responsável, senão exclusivo, pela sua solidão e que lhe competia combatê-la.

que se pretendia incentivar este a lutar contra isso e etc…

 

tanto quanto sei (e me lembre…) a campanha nunca foi avante, ficou-se por dois ou três artigos nos jornais e motivou criticas da oposição e de várias individualidades.

que a solidão é uma doença social e que não se a pode circunscrever exclusivamente à esfera individual” era, mais ou menos, a leitura que se fazia da oposição à campanha na altura.

se a campanha foi avante… deve ter ficado muito circunscrita pois nunca a vi em parte alguma…

 

bom… em parte, é verdade… não se pode deixar o indivíduo (neste caso, o solitário) encarregue… exclusivamente… de resolver o seu problema.

o mais certo seria, isso ir sobrecarregar-lhe o problema e servir como desagravo para todos os outros, inclusive do estado… o que também não parece muito legítimo nem honesto.

com sucessivos governos a pretenderem-se desvincular (senão, demitir) de tantas e tantas responsabilidades sociais… talvez seja compreensível que se desconfie das verdadeiras intenções destas campanhas… mas enfim…

 

contudo… em parte, também é verdade… que o solitário não está isento, nem de responsabilidade pela sua situação, nem de capacidade para a contrariar.

como em muitas outras chagas sociais… ninguém o conseguirá ajudar (por muita vontade que realmente tenha) se o próprio não der um primeiro passo… se não quiser ser ajudado.

 

por exemplo... quantos casos conhecemos de pessoas que, depois de um divórcio, se encerraram sobre si mesmas, que se afastaram da família e amigos, que se deitaram à cama dos rancores, das desconfianças, das mágoas e azedumes e que… agora, anos depois, finalmente ostracisados, se queixam de “solidão” ?!...

 

e é verdade… é inegável… estão em solidão e sofrem com isso.

também não é correcto apenas pensarmos o tradicional "quem fez a cama, que nela se deite" e muito provavelmente alguém as poderá ajudar.


mas… não podem querer comparar o seu caso, a sua solidão… à de um velho doente, “despejado” algures, abandonado por filhos e restante família, já sem amigos, com a morte rondando por perto !

( lamento puxar da comparação, mas… é verdade, não podem )

nem podem pretender que surjam anjos do céu para os erguerem do chão.


terão que fazer o seu esforço individual para contrariarem o seu estado… talvez mesmo, começando por perceberem a sua quota parte de responsabilidade na sua própria situação.

caso não lhes restem sequer forças para fazer esse “trabalho”... pelo menos... que façam saber da sua vontade em as reunirem… se alguém ou algo se dispuser a ajudar.

este “pouco” é, em tudo, preferível à vitimização do “coitadinho de mim, estou para aqui abandonado e ninguém me liga”…

 

muita gente, solitários em potência, não o são.

porquê ?!...

há muitas razões para não o serem… e há que perceber essas razões.

algumas não nos servirão a nós (só àquela pessoa em particular) mas outras… talvez nos tragam a diferença.

 

há quem… na ausência do afecto de uma companheira… se dedique mais à família,

que semeie e colha aí os seus afectos, por exemplo.

é uma coisa diferente, isso é incompreensível”, poderão dizer…

será ?... ter-se-á assim tanta certeza disso ?

diria que há coisas bem mais incompreensíveis e que, no entanto, se procuram dar como certas… (são questões de perspectiva…)

 

ao invés de apenas desvalorizarmos outra pessoa porque “não é solitária” (o que em si é algo estúpido, diga-se – pois estaremos então a valorizar a solidão) ou a invejar-lhe simplesmente a vida que tem… que antes se preste atenção às formas como a combate, como a evita ou mesmo como a elimina.

por exemplo, antes de comentarmos a alguém, “mas sabes lá tu, o que é solidão !!?”… perguntemos a nós próprios que “raio de questão” é essa.

 

será a pessoa “menos válida” porque nunca passou por ela ?!

será boa… a solidão… para constar curricularmente na vida de alguém ?!

será que sabemos, de certeza, que a pessoa nunca terá passado por ela ?!

será que nos estamos a “valorizar” por sermos solitários ?!

será que pretendemos a nossa solidão como “mãe” de todas as outras ?!


há questões que, a serem colocadas, terão honestamente de levantar várias perguntas.

 

é comum dizer-se que uma das principais razões para a solidão é a “falta de afecto”.

é comum porque é verdade… é das razões a que acredito "maior".

principalmente quando a auto-estima é, para todos os efeitos, um afecto.

 

e em muitos casos, tudo aparenta, a ausência de auto-estima é causa suficiente para uma solidão.

poderemos dizer que… a falta de estima dos outros aniquila a nossa própria.

pode ser verdade… dependerá do indivíduo, das circunstâncias, etc.

 

mas também é outra verdade, que… se não tivermos auto-estima, dificilmente os outros encontrarão razão ou motivo para tê-la por nós.

se é que não nos transformamos em alguém "intragável" que induz o seu próprio campo de solidão...


há que pensar em todas estas questões !

depois... poderá um país, um estado, uma sociedade, pensar no seu papel em prevenir determinadas situações e no seu contributo para minorar a parte social da solidão...


 


 


porque acredito que a maior solidão que existe é aquela em que...

nos abandonamos a nós próprios… desafio-nos :

 

gostemos de nós próprios…

saibamos fazê-lo com humildade

talvez encontremos forças de que não suspeitávamos…

talvez que, mesmo lentamente, a vida se nos modifique.



bom fim de semana
beijos, abraços e outras coisas de que se lembrem...




sinto-me: introspecivo...
música: They Call Me Naughty Lola - (Ute Lemper)

Quarta-feira, 21 de Novembro de 2007

o meu casamento



( não se assustem... é apenas um título )



peço encarecidamente…

 

por favor expliquem-me porque é que a esmagadora maioria das mulheres tem esta (aquela) mania irreprimível de serem “casamenteiras” ?

 


lá que queiram casar… eu compreendo, há “n” explicações compreensíveis para o facto.

mas tanto empenho em que os outros também se casem… arre, é-me incompreensível !

 

pior que isto é que… também é crescente o número de gajos a sofrerem desta mesma patologia !

(vocês riem-se mas é deveras preocupante…)

 


deixem-me contextuar a coisa…


 

já não bastando o quase diário assédio ao meu celibato levei este fim de semana um autêntico “banho” de lugares comuns acerca da coisa e fiquei completamente azedo e impróprio para consumo !

 

como não tenho mais sítio nenhum para ir desabafar… “comem” vocês por tabela, que é para não terem essa mania de serem meus leitores.

 

 

 

neste país, ser solteiro (okay, divorciado, pronto...) aos 47 anos parece ser algo susceptível de multa (no mínimo) ou de equiparação aos Et’s de roswell…

existem as mais diversas formas e expressões para demonstrar que somos uma qualquer anormalidade de feira, tipo “mulher barbuda” …

 

este fim de semana foi o fim de semana da família… assim a modos que uma tradição muito nossa que... de há muitos anos a esta parte... visa contrariar a “tradição de toda a gente”, que são as concentrações de natal.


local : um vilarejo para o centro do país, onde vivi parte da minha juventude e onde uma tia minha tem casa com espaço para albergar duas companhias de cavalaria.

 

num passeio matinal pelo lugar, foram inevitáveis alguns encontros “com o passado” portanto…

 

 

“não me digas que ainda não casaste ?!?”, pergunta a Felismina, a ex-boazona dos tempos de liceu, com aquele ar de desmesurado espanto, como se me tivesse esquecido de algo fundamental à vida...  (tipo : a panela de pressão ao lume há 6 horas…).

 

O cómico é isso mesmo… tudo parece indicar que me esqueci disso.

como se houvesse um grupo enorme de mulheres que me mandam folhetos e outros direct-mail desejando contrair matrimónio comigo e eu… vai de botar no lixo junto com os jornais do jumbo, media-markt e os cartões do mestre bambo licenciado em tarôt…

não prestando a mínima atenção e votando as pobres ao esquecimento.

 

“o quê ?!? ainda não te fisgaram ?!?”, acrescenta a Jacinta, prima da Felismina, arregalando ainda mais os olhos e descendo o queixo no máximo possível, afim de vincar que o seu espanto é ainda maior que o da prima.

 

esta coisa do “fisgar” é lixada !

faz-me sentir assim a modos que um salmão desesperado, subindo um qualquer rio bucólico, a tentar fugir aos anzóis de 500.000 mulheres num concurso de pesca desportiva.

 

quando respondo que “não” com o meu melhor sorriso descartável… cai o carmo e a trindade.

como se o facto de ainda não me ter casado (ou sido fisgado portanto) fosse, ao mesmo tempo, uma injustiça inqualificável da vida e algo mais surpreendente do que o mickael jackson ficar preto de novo…

 

mais algum blá blá e piro-me com a desculpa de estarem à minha espera.

num último olhar, já à distância, digo para mim próprio que a Felismina ainda merecia uma boa foda à canzana… mas apago rapidamente o pensamento.

 

 

no café, tentando a paz de um martini (ando a tentar ficar parecido com o George Clooney…)  lá a Ti Rosa me dispara um “atão hóme, e casar ? nada ?!?” tal qual como se pergunta se o bilhete da lotaria saiu branco…

para logo acrescentar, “olha, o meu filho já está despachado”… que é como que diz que o “puto” com 22 anos é mais esperto que aqui o “cota” com “carenta e muitos”…

 

lá tenho de me render à evidência que o gajo é mais entendido nestas coisas da vida e nos seus despachos do que eu.

contra factos não há argumentos !!!

 

o “estar despachado” também é interessante !

- será que significa estar (finalmente) despachado da casa materna ?

- será que se despachou a encontrar uma substituta para “tratar dele” ?

- assim sendo… haverá, algures, uma fila em que os homens aguardam pacientemente e de ticket na mão que chegue a sua vez de serem “despachados” ?!

- fila portanto… que ele, despachadamente, fintou e passou à frente ?!


o “despacho” é realmente um mistério em termos de conceito.

 

 

já em casa de família… nova carga da brigada ligeira.

 

“e tu Zé ? quando é que te decides a casar ? “ – pergunta a Ti Elvira.

sinto vontade de dizer:

- olhe… decidi agora mesmo !... vou ali à rua, a ver se apanho uma desprevenida… o casamento é amanhã à tarde.

claro que não digo isto… a velhota ainda era capaz de acreditar e punha a costureira a fazer uma directa para lhe acabar a “saia-casaco”.

digo-lhe apenas que “ainda não calhou…” e o seu rosto de 83 anos fica transido com a minha falta de sorte – é uma fofa, a Titi…

 

mas está dado o malfadado mote – já não há nada a fazer !...

 

“ pois é primo… você é o único sem mulher, não é ?!? “ – aproveita-se logo a prima Efigénia, uma quarentona bem cuidada que, em tempos, teve uma paixonite cardíaca por mim…

ainda pensei em responder-lhe “estou à sua espera prima”, mas receei que ela não percebesse a ironia e tivesse uma recaída.

(além do mais… é casada com um GNR e não quero problemas com as autoridades…)

 

“ ele não é casado… mas isso de não ter mulher, já é outra história !!!...”

disparou logo a minha mãe em defesa do filho – risota geral.

não sei muito bem como, mas… as mães sabem sempre destas porras todas !...

 

“ pois, está bem, mas o primo devia assentar… já não vai para novo…”

tornou a Efigénia, compondo a cabeleira encaracolada…

(não sei se terá sido coincidência…)

 

não faltasse esta !!!... a do “assentar”...

 

mas assentar o quê ?!? que trampa é essa do “assentar” ?!?

até parece que um gajo anda pelos ares, qual pobre folha arrastada pelo vento, sem eira nem beira…

isto na melhor das hipóteses… que se quiser ser complicado, sinto-me como um ladrão alcoólico e toxicodependente, pulando de pensão decrépita em esconderijo manhoso, fugindo à bófia e fornicando prostitutas de esquina… a necessitar desesperadamente da super-mulher que me virá “meter juízo” na cabeça e reabilitar-me finalmente.

 

esta coisa de “assentar” é a mais comum.

como se toda a nossa vida fosse uma brincadeira leviana e desconexa que só um casamento (prefigurado na mulher, portanto) é capaz de contrariar e carregar com a virtude da “responsabilidade”, legitimando-nos finalmente como pessoas inteiras, nobres, idóneas, fecundas e raios-os-partam os etc’s…

é parecido com o mito do “ir à tropa”, que é o que faz de nós… homenzinhos !...

 

é, sem dúvida, a expressão que mais “me fode”.

 

ora… uma cozinha com uma dúzia de mulheres não é o melhor local para um gajo se sentir “fodido” (noutro contexto seria…) e resolvi pirar-me para a sala.

 

esqueci-me que... sendo esta uma das reuniões hiper-tradicionais inter-géneros, estavam elas na cozinha e eles… na sala a ver o sport-tv

pirei-me para o quintal-horta-pomar…

seguido pelo meu irmão e pela minha respectiva cunhadinha a quem chamo “minha ovelhinha negra” (o que, dito por mim, é um elogio…).

 

– porra !!!... grande ataque, hein ?... – diz-me ela rindo-se muito.

- arre !!!... – respondo eu em jeito de concordância.

- tás tramado !!!... – sentencia o meu irmão.

a minha cunhada dá-me o braço e andamos um pouco pelo pomar.

- nunca vais casar, promete-me…

- prometo !... – respondo-lhe com uma risada.

 

(aleluiaaaaa… uma lufada de frescura em toda aquela fixação feminina casamenteira – tinha de ser ela !...)

 

mas mal sabia eu da missa…

 

uma hora depois, já estando toda a gente à mesa (e acreditem que é bem grande…) começa-se de novo a falar em casórios…

que este casou com aquela… que a outra tá para casar com aquele outro… que a não sei quantas vai casar mas já está toda “furada” (pobre moça!)… que assim, que assado, cozido e refogado…

PIMBA !!!... lá venho eu de novo à baila…

faço um esforço tramado para parecer alheado daquilo tudo…

 

até que, por fim (não podia “faltar”), a Tia Genoveva, na sua infinita sapiência de “matriarca, governanta e gestora” de homens frouxos que gerou no seu seio familiar, lá se sentiu “forçada” a opinar com o seu habitual ar severo que… “não é vida para um homem… que deve manter uma família e ter assim quem trate dele… pois é sabida a vida desregrada que levam os homens solteiros…”

 

isto dito… evidentemente… não como uma má sorte da minha vida, mas antes com a certeza inquestionável de uma culpa declaradamente minha, uma falta imperdoável da minha ignóbil condição de homem sem rumo... e outros conceitos merdosos de que a sei recheada como um peru.

 

esta minha tia, deve ser o membro da família que menos prezo e com quem me sinto, literalmente, obrigado a conviver.

(uma ou duas vezes por ano, mas, sinto… e ela sabe disso)

deve ser o melhor protótipo da gaja que “inverteu os papéis” e que foi… muito mais além do pior dos gajos como marido, pai e chefe de família ! (é a minha opinião)

 

é o “sonho” personificado de muitas damas, enfim…

 

este “ataque ao desregrado” é, no fundo, o “ataque ao coitadinho” (como desprezível, nada de compaixões…)

ou seja… não tendo mulher, coitadinho, vivo num pardieiro, acumulo pilhas de louça por lavar e montes de roupa à espera do mesmo, tenho uma camada de pó com 1cm (no mínimo) por sobre toda a casa, alimento-me exclusivamente de enlatados, visto roupa amarrotada e outras coisas mais… que são apanágio de “homens que vivem sozinhos”.

sem uma mulher… sou uma merda ! (poderá ler-se nas entrelinhas...)

tentar provar-lhe o contrário é tempo perdido, de nada adianta... e da minha parte está ela bem livre da intenção !

 

ou isso… ou tenho forçosamente de ter “mulher a dias”, almoçar e jantar num restaurante, usar a lavandaria / engomadoria com parcimónia e dar mensalmente uma lista de mercearias à minha mãe…

(desta última, a minha mãe riu a bom rir !... “para dentro” como se costuma dizer e sem comentar, pois não vale a pena)

 

a contrariar isto, contudo… houve ainda aquela coisa do ser um “bom partido”.

que partiu… não de uma senhora já velhinha e apegada às antigas noções do matrimónio, mas… de uma outra prima (em 2º ou 3º grau, já nem sei) ainda nos seus viçosos 27 aninhos.

(e que bem “viçosa” é… raios !!!)

 

ora… pelo que se comprova, a noção não é antiga e colocou ela por mim a questão fulcral da coisa :

que o que eu sou é “um bom partido”… fosse eu um tipo (da recolha) do lixo, barrigudo e sem cheta… não haveria tanto interesse em que me casasse !

 

minha mãe nem levantou os olhos do prato - sorriu e fez que sim com a cabeça.

 

cá por mim… por tão cabal exposição, apeteceu-me beijar a priminha…

(na boca, de preferência… ainda que estas “relações familiares” não sejam bem vistas)

 

o resto da mesa apresentou interesse em debater/rebater a ideia até que… pedi, por favor, que mudássemos de assunto.

fi-lo bastante secamente (o que parecia ir comprometer o resto do almoço) mas, sinceramente, achei a coisa perfeitamente descabida e já demasiado exagerada.


não imagino o que “lhes deu” este ano para fazerem do meu celibato a “ordem do dia” mas que acabou por se tornar bastante constrangedor... acabou. !

 

 

ao jantar, felizmente, lá voltou o assunto que costuma ser o “número um” nestas reuniões de família, ou seja, o obituário anual do vilarejo e o levantamento de doenças e mazelas da população.


curiosamente… ninguém perguntou pela minha saúde…

 

 


música: Don't Break My Heart - (Vaya con Dios)
sinto-me: perseguido !!!...

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