Domingo, 20 de Janeiro de 2008

ditadura




---< O CASAMENTO >---

debaixo da ditadura de Sextrip


 



 

- boa tarde... olhe, eu quero saber o que é preciso para casar.

 

- boa tarde... com certeza... diga-me a sua idade por favor.

 

- 19 anos.

 

- casamento... hetero ou homossexual ?

 

- (meio surpresa) hummm... hetero !...

 

- com certeza... a senhora estuda ?

 

- sim, sim... estou a tirar licenciatura em química lacto-ovóide-caprina, 2º ano...

 

- ah, excelente escolha... com boas saídas futuras - então... temos o seguinte:

 

nº 1 - a senhora tem de acabar primeiro o seu curso :  como compreenderá, ser-lhe-á mais fácil fazê-lo enquanto solteira, pelas mais diversas razões, mas também (e muito importante) está a investir em algo que lhe permitirá a sua auto-suficiência profissional no futuro, seja em que condições forem.

acredite que é um "compasso de espera" que valerá a pena sob qualquer perspectiva.

ora isto... (cantarolando)... 5 anos de curso... portanto aponta para os seus 22 anos... certo ?

 

- ... (ela fazendo que "sim" com a cabeça...)

 

- ora, passamos ao nº 2 - nesse entretanto...

 

- o senhor acha que 3 anos são um... "entretanto" ?!?

 

- oh sim, minha cara senhora !!!... digo-lhe mesmo... 3 anos não são coisa nenhuma !...

continuando...

neste entretanto, dizia-lhe, a senhora deve, além do tempo dedicado ao estudo, conhecer o maior número de pessoas possíveis, viajar o mais que...

 

- eu não quero conhecer o maior número de pessoas possíveis... eu só quero o meu namorado, quero saber se ele é o meu "Mr. Right Guy"...

 

- minha querida senhora... não digo o contrário, nem me atreveria.

mas em boa verdade... só saberá se ele é "candidato a Mr. Right Guy" se conhecer bastante gente para saber exactamente os "right" que lhe interessam a si, no "guy".

ele deverá fazer o mesmo, compreende ?  ele também andará à procura da "Miss Right Girl", não será assim ?

e não me refiro a apenas conhecer outros homens, nem sequer a relações românticas nem sexuais.

simplesmente... conhecer o maior número de pessoas possíveis, de ambos os sexos, com vidas diferentes... seja conhecendo os problemas dessas pessoas, seja divertindo-se com elas... passando bons momentos, etc...

 

- mas eu gosto é de estar com ele !!?... eu amo-o !...

 

- mas perfeitamente !!!... não invalida... vão conhecendo as pessoas juntos... mas, com os eventuais momentos a sós que vos apeteçam, por exemplo... olhe que é algo excelente de ensaiar desde cedo.

mas dizia... viajar, ter experiências diferentes, etc.

 

- “experiências diferentes” ?!?!?  que quer você dizer com isso ?!?  (desconfiada)

 

- lol lol lol… minha querida senhora… descontraia… quero dizer simplesmente isso, sob qualquer aspecto que a senhora queira imaginar.

alguma vez fez Rapel  ou Slide ??? não !? pois experimente… tem tempo livre, excelente forma física… vá em frente… sozinha ou com o seu namorado... sinta a adrenalina a correr nas veias...

sempre quis fazer aquele cursinho de Ikebana ??? pois faça-o… sempre pensou em passar uma noite num deserto africano ??? pois vá !... contemple alternativas, faça daquelas coisas que são “uma vez na vida”, está a ver ?...

ou mesmo… conforme me pareceu que foi o que julgou que eu estava a sugerir, se gostasse de experimentar algo lésbico ??? pois experimente-o !... porque não ?!?...

 

- … (um pouco constrangida)

 

- são apenas exemplos, apenas exemplos… não fique assim, lol lol…

continuemos…  nº 3... terá de nos preencher o formulário nº 8B para podermos aferir da preparação que recebeu dos seus pais com vista a um futuro casamento.

 

- os meus pais ?!?... mas que têm eles a haver com isto ?!?

 

- ah minha querida senhora... muito mesmo !  têm muito "a haver" acredite !

estão comprovadas as mais diversas relações entre os casamentos dos pais com os casamentos dos filhos... e nós precisamos de perceber em que "pé" estão os conhecimentos que lhe foram transmitidos, entende ?

 

- então... e se os meus pais não me passaram os "conhecimentos" que os senhores achem os melhores ???  vão presos, não ?!?

 

- lol lol lol... de maneira nenhuma !... não interferimos nisso, não dessa forma... mas poderemos dar algumas dicas aos seus pais, para que a ajudem nesta sua decisão… se eles assim o pretenderem.

com certeza que eles quererão que você vá bem preparada para um casamento, pois será o seu ideal de felicidade que estará em jogo, correcto ?

sabe... é que por vezes há pais que muito pressionam os filhos para que casem... tanto às raparigas quantos aos rapazes... quando no entanto, pouco ou nada lhes transmitiram.

nós simplesmente, precavemos isso !

aquilo que os seus pais não conseguiram transmitir-lhe, tentaremos nós fazê-lo.

é um género de cursilho... nada de muito complicado... tem até mais a haver com gestão económica, gestão de recursos, cuidados a ter com ingerências externas, etc... nada de muito complicado, não se preocupe.

há até quem, mesmo bem preparados pelos pais, requerem o cursilho na mesma.

sempre são mais uns pontos de vista, compreende ?

 

- estou é a ver que isto de casar afinal é mais complicado do que eu esperava.

 

- lol lol lol… não tanto quanto a vida… nem tanto quanto o amor, minha querida senhora…

ora vamos ao nº 4

nº 4… o estágio.

 

- o quem ?!?!? o quê ?!

 

- o estágio minha querida senhora.

para poder casar, terá de viver com o seu namorado (ou namorados, como entender) durante, no mínimo, um ano… doze meses, 365 dias, lol…

no mínimo, conforme disse.

 

- ora essa !!?...

 

- sim, sim… tenho de lhe dizer que é condição prioritária… e bastante no vosso interesse, acredite.

ficou comprovado que, antigamente, a grande maioria dos conflitos e incompatibilidades surgiam ao fim de apenas 6 meses de casamento… que as pessoas fingiam não se aperceberem deles ou de se importarem com eles porque… já estavam casados, “já não havia nada a fazer”, talvez fosse assim que “deveria” ser, patati-patatá… está a ver ?

por vezes… as coisas mais irrisórias, mas que… originavam autênticas “bolas de neve” silenciosas e corrosivas.

nós simplesmente concluímos inequivocamente que, essas situações se desenvolviam porque as pessoas se sentiam obrigadas a um “contrato”, que se sujeitavam a elas por complexo social… perante pais, amigos, a sociedade em geral incluindo o estado.

a condição de viver “maritalmente”, num grau à vossa escolha (são perfeitamente livres nisso) não veio erradicar tal, mas… garanto-lhe, minorou imenso esse tipo de situações.

 

- não sei se concordo com isso !... (contrafeita)

 

- lol lol lol… minha querida senhora… conforme lhe disse… viver “maritalmente”, num grau à vossa escolha.

significa isso que… poderá declará-lo ao estado e cumpri-lo no mínimo grau a seu gosto ou imaginável – nós temos noção disso.

contudo, também conforme lhe disse, estamos convictos que esta condição é do vosso completo interesse.

bom… adiante…

ora, com todas estas andanças a senhora já deverá então estar pelos 25 anos, eventualmente com emprego, já terá a sua ideia (sua… vossa portanto) de como quererá experimentar o casamento.

estará na altura de marcar as “entrevistas”.

 

- mau !!!!... entrevistas ?!?... para quê ?!

 

- bom… é o nº5… e último, devo dizer.

o casamento, para nós, para o estado portanto, serve para além de oficializar o vosso envolvimento e relação… que bastante nos apraz, pois desejamos cidadãos felizes naquilo que decidirem fazer obviamente… serve também para estabelecer uma carta de direitos e deveres de e para com o estado.

certo ?... sempre assim o foi portanto… não tão declaradamente mas, foi !

logo… desejamos entrevistar-vos… perceber das vossas expectativas… noção do estado do país, perspectivas de futuro, noções de fidelidade mútua ou não, desejos de prole tanto de maternidade quanto de paternidade, etc… coisas muito gerais.

 

- pois a mim parece-me assim a modos que cusquice… a meterem-se na vida das pessoas.

 

- lol lol lol… de maneira nenhuma… são até entrevistas bastante informais e… que não serão obrigados a fazerem… podem optar por um inquérito por escrito que se resumirá às declarações necessárias por lei.

mas acredite… os nossos assistentes sociais são de uma experiência incrível, muito amigáveis e pacíficos, que vos podem dar sugestões insuspeitas e de extrema utilidade.

na verdade… estas entrevistas foram criadas precisamente porque no passado se concluiu que o estado se demitia por completo das pessoas num momento de grande tensão social como é um casamento ou era extremamente “frio” e distante no momento dessa decisão… mas cobrando na mesma, depois, os deveres aos cidadãos.

ora… se na verdade os cidadãos não estavam capacitados para essa tarefa… acabava toda a gente a perder, aumentavam as injustiças, os incumprimentos de parte a parte, enfim… a barafunda que se via.

e tanto assim é que… raramente os noivos se escusam a essas entrevistas.

 

- hummm… estou para ver !...

 

- sim… “estará para ver” até aos seus 25 anos… o que não é muito tempo, mas… também lhe permitirá formar uma ideia até… a nosso respeito.

 

- então e depois ?!?

 

- depois… depois o quê exactamente ?

 

- depois !… o que os senhores “depois” pretendem ?

 

- depois pretendemos que façam a vossa vida !... já não nos dirá respeito a forma como a projectam ou conduzem, não acha ?  nós só pretendemos que as pessoas façam este, para nós, contrato de vida com o máximo de consciência… nada mais !

 

- hummm… vou ter de pensar.

 

- com certeza… esteja à sua vontade.

 

- e se… (pensativa)… e se eu resolvesse casar depois dos 25 anos… como era ? já seria uma pessoa "capaz" para casar ?! sem precisar de passar por estas coisas ?!...

 

- bom… critique-se este estado, ou não, por aquilo que ele entende… sim, já pode !

compreendo até o seu desagrado por esta medida.

nós sabemos que há pessoas que aos 20 anos têm tanta maturidade quanto outras de 30 mas… pretendemos garantir uma melhor qualidade de vida a quem não tem esse perfil e que necessita de alguns anos para tomar peso à vida, independente de certa influência familiar por exemplo, ou de pressões ditas sócio-culturais, etc… garantir por exemplo que as pessoas tenham o seu desejo de tirarem um curso também garantido e livre de pressões de qualquer género, etc.

olhe que há pessoas com 30 anos e mais que seguem este programa por sua própria iniciativa até…

 

- hummmm… acho isto tudo “muito bonito” !!!...

 

- lol lol… compreendo-a perfeitamente.

 

- … (?)… bem, okay, como disse, vou pensar… boa tarde e obrigado.

 

- disponha sempre… boa tarde.


 


o que há de mais utópico nisto...

... é que eu detesto ditaduras !


 


 



Domingo, 4 de Novembro de 2007

crime travestido de arte




mais uma vez... não é de sexo que se trata...



recebi um mail da Culturgest com um conteúdo que me revolta.

não vou discutir este assunto aqui porque acredito que deveria haver um debate entre bloguers mas... que se deve concentrar o mais possível esse debate - que quanto mais disperso for esse debate menos conclusões se poderão tirar.

assim... porque o CrestFallen abriu um artigo sobre este mesmo assunto e nele expõe aquilo que eu exporia, vou fazer o seguinte:

vou colocar parte do conteúdo do mail que recebi (aquilo que importa)...
vou fazer link ao artigo do CrestFallen...
vou cancelar os comentários a este meu artigo...

espero que as minhas razões sejam compreensíveis para todos vós e avanço-vos já que aquilo que se discute é bastante chocante.


---||---



bem que podia ser uma brincadeira mas não o é

esta besta que não tem outro nome pegou num cão vadio e deixou-o
morrer à fome e sede numa galeria de arte – era um dos trabalhos da
sua exposição...

esta besta vai ser o representante da costa rica na bienal
centroamericana,  honduras 2008.

a não ser que as assinaturas sejam tantas que a direcção da bienal
"mude de ideias"...

vamos tentar que isso aconteça?

em nome do cão, em nome da nossa dignidade como pessoas... não se
deixa um animal morrer à fome como obra de arte...



Gabinete de Comunicação

Culturgest

Telf: 21 790 54 54
Fax: 21 848 39 03
www.culturgest.pt


---||---

um artigo que prezo :


"Eres lo que lees". A frase, escrita com biscoitos de ração para cães, foi colocada na parede branca de uma galeria de arte. Junto a essa parede, preso por uma corda e um fio de arame, foi deixado ao desprezo um cão de rua, abandonado e doente. A alguns metros foi colocado um incensário onde, alegadamente, se queimou crack e cannabis durante a inauguração. Sem água e alimento, o animal morreu na própria galeria durante o dia seguinte.
Passou-se na Nicarágua. Tratava-se de uma "instalação" do artista costa-riquenho Guillermo Vargas, conhecido como Habacuc.
A situação, denunciada pelo El País e documentada em várias imagens, tem merecido enorme divulgação na web e deu origem a uma petição online contra o seu autor que reúne, no momento em que escrevo estas palavras, perto de 50.000 assinaturas.

O assombro generalizado por este gesto cometido em nome da arte lançou uma discussão acesa sobre os seus limites. A questão não é nova. Desde que Duchamp assinou um urinol e o intitulou de "La Fontaine" que se debate o que é, afinal, a Arte. A piada centenária parece entretanto ter perdido a graça. Na sociedade do relativismo cultural o grotesco tornou-se uma demanda crítica. De vacas serradas ao meio conservadas em monólitos de fibra acrílica a diamantes encastrados em caveiras humanas, a produção artística contemporânea vive refém das lógicas do seu tempo. A arte tornou-se lugar para a execução de função do gesto estético. Tudo se submete à performance.
Que a arte se tenha de submeter a todo o tipo de degradação é uma triste consequência do desespero em ser visível. Uma arte demitida de qualquer desígnio que não seja a captura de atenção. De tanta pedrada no charco, os "artistas" tornaram-se patéticos denunciadores da hipocrisia alheia. Sob o manto da irreverência e a crítica não resta mais que moralismo seguidista.

Eis, então, Habacuc, o grande moralizador. Pelas suas próprias palavras afirma que " o importante para mim era a hipocrisia do povo: um animal torna-se o foco de atenção quando o ponho num lugar branco onde as pessoas vão ver arte, e não quando está na rua morto de fome".
Quando questionado sobre a razão para não utilizar outra forma de exprimir a sua mensagem, a desumanidade é total. "Recordo o que vejo… O cão está mais vivo do que nunca porque continua a dar que falar".

Não é preciso ser defensor dos animais para perceber o grotesco intelectual em que tudo isto vive. A exibição da morte de um qualquer animal em nome de mais uma pedrada no charco inútil. Habacuc contra o mundo, aos seus olhos carregados de preconceito onde todos seremos hipócritas.
Em nome do desígnio de mudar o mundo, ou de nos mudar a todos, célebres tiranos promoveram os maiores genocídios da história. A Habacuc, em nome de atentar contra a nossa hipocrisia, restou o poder de matar um miserável cão das ruas de Manágua. A arte, essa, já morreu há muito.

in Ideias no Escuro, 23/10/2007


ao "grande moralizador" Habacuc gostaria de dizer cara-a-cara... que antes de me chamar hipócrita, que se olhe no espelho !


ira para artigo
"Petição Online", de CrestFallen


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