Sábado, 1 de Março de 2008

auto estima vs solidão




simplesmente... aquilo que penso... tenha o valor que tiver



solidão é um cesto com muitos e diferentes vimes.

donde… é bastante falho, senão tendencioso, atribuírem-se “culpas” exclusivamente a A, B ou C… ou, como muito costumeiramente, à “sociedade”.

 

a velhice, a doença prolongada ou a “deficiência”, interligadas ou não, são circunstâncias que levam as pessoas a solidões bastante nefastas… daquelas em que, muita vez, as próprias pessoas pouco ou nada podem fazer… que são “lançadas” nelas e que, apenas por sua vontade, muito dificilmente conseguirão contrariar.


em todas as outras, a meu ver e muito provavelmente, o indivíduo tem uma palavra a dizer.

e é sobre este “em todas as outras” que este artigo se vai debruçar.

 


poucos anos atrás, creio que no início do governo anterior, este pretendeu lançar uma campanha “contra a solidão”… em que, entre outras coisas, mais ou menos legítimas ou pertinentes, se sugeria algo subtilmente que seria o indivíduo o principal responsável, senão exclusivo, pela sua solidão e que lhe competia combatê-la.

que se pretendia incentivar este a lutar contra isso e etc…

 

tanto quanto sei (e me lembre…) a campanha nunca foi avante, ficou-se por dois ou três artigos nos jornais e motivou criticas da oposição e de várias individualidades.

que a solidão é uma doença social e que não se a pode circunscrever exclusivamente à esfera individual” era, mais ou menos, a leitura que se fazia da oposição à campanha na altura.

se a campanha foi avante… deve ter ficado muito circunscrita pois nunca a vi em parte alguma…

 

bom… em parte, é verdade… não se pode deixar o indivíduo (neste caso, o solitário) encarregue… exclusivamente… de resolver o seu problema.

o mais certo seria, isso ir sobrecarregar-lhe o problema e servir como desagravo para todos os outros, inclusive do estado… o que também não parece muito legítimo nem honesto.

com sucessivos governos a pretenderem-se desvincular (senão, demitir) de tantas e tantas responsabilidades sociais… talvez seja compreensível que se desconfie das verdadeiras intenções destas campanhas… mas enfim…

 

contudo… em parte, também é verdade… que o solitário não está isento, nem de responsabilidade pela sua situação, nem de capacidade para a contrariar.

como em muitas outras chagas sociais… ninguém o conseguirá ajudar (por muita vontade que realmente tenha) se o próprio não der um primeiro passo… se não quiser ser ajudado.

 

por exemplo... quantos casos conhecemos de pessoas que, depois de um divórcio, se encerraram sobre si mesmas, que se afastaram da família e amigos, que se deitaram à cama dos rancores, das desconfianças, das mágoas e azedumes e que… agora, anos depois, finalmente ostracisados, se queixam de “solidão” ?!...

 

e é verdade… é inegável… estão em solidão e sofrem com isso.

também não é correcto apenas pensarmos o tradicional "quem fez a cama, que nela se deite" e muito provavelmente alguém as poderá ajudar.


mas… não podem querer comparar o seu caso, a sua solidão… à de um velho doente, “despejado” algures, abandonado por filhos e restante família, já sem amigos, com a morte rondando por perto !

( lamento puxar da comparação, mas… é verdade, não podem )

nem podem pretender que surjam anjos do céu para os erguerem do chão.


terão que fazer o seu esforço individual para contrariarem o seu estado… talvez mesmo, começando por perceberem a sua quota parte de responsabilidade na sua própria situação.

caso não lhes restem sequer forças para fazer esse “trabalho”... pelo menos... que façam saber da sua vontade em as reunirem… se alguém ou algo se dispuser a ajudar.

este “pouco” é, em tudo, preferível à vitimização do “coitadinho de mim, estou para aqui abandonado e ninguém me liga”…

 

muita gente, solitários em potência, não o são.

porquê ?!...

há muitas razões para não o serem… e há que perceber essas razões.

algumas não nos servirão a nós (só àquela pessoa em particular) mas outras… talvez nos tragam a diferença.

 

há quem… na ausência do afecto de uma companheira… se dedique mais à família,

que semeie e colha aí os seus afectos, por exemplo.

é uma coisa diferente, isso é incompreensível”, poderão dizer…

será ?... ter-se-á assim tanta certeza disso ?

diria que há coisas bem mais incompreensíveis e que, no entanto, se procuram dar como certas… (são questões de perspectiva…)

 

ao invés de apenas desvalorizarmos outra pessoa porque “não é solitária” (o que em si é algo estúpido, diga-se – pois estaremos então a valorizar a solidão) ou a invejar-lhe simplesmente a vida que tem… que antes se preste atenção às formas como a combate, como a evita ou mesmo como a elimina.

por exemplo, antes de comentarmos a alguém, “mas sabes lá tu, o que é solidão !!?”… perguntemos a nós próprios que “raio de questão” é essa.

 

será a pessoa “menos válida” porque nunca passou por ela ?!

será boa… a solidão… para constar curricularmente na vida de alguém ?!

será que sabemos, de certeza, que a pessoa nunca terá passado por ela ?!

será que nos estamos a “valorizar” por sermos solitários ?!

será que pretendemos a nossa solidão como “mãe” de todas as outras ?!


há questões que, a serem colocadas, terão honestamente de levantar várias perguntas.

 

é comum dizer-se que uma das principais razões para a solidão é a “falta de afecto”.

é comum porque é verdade… é das razões a que acredito "maior".

principalmente quando a auto-estima é, para todos os efeitos, um afecto.

 

e em muitos casos, tudo aparenta, a ausência de auto-estima é causa suficiente para uma solidão.

poderemos dizer que… a falta de estima dos outros aniquila a nossa própria.

pode ser verdade… dependerá do indivíduo, das circunstâncias, etc.

 

mas também é outra verdade, que… se não tivermos auto-estima, dificilmente os outros encontrarão razão ou motivo para tê-la por nós.

se é que não nos transformamos em alguém "intragável" que induz o seu próprio campo de solidão...


há que pensar em todas estas questões !

depois... poderá um país, um estado, uma sociedade, pensar no seu papel em prevenir determinadas situações e no seu contributo para minorar a parte social da solidão...


 


 


porque acredito que a maior solidão que existe é aquela em que...

nos abandonamos a nós próprios… desafio-nos :

 

gostemos de nós próprios…

saibamos fazê-lo com humildade

talvez encontremos forças de que não suspeitávamos…

talvez que, mesmo lentamente, a vida se nos modifique.



bom fim de semana
beijos, abraços e outras coisas de que se lembrem...




sinto-me: introspecivo...
música: They Call Me Naughty Lola - (Ute Lemper)

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